Eu só posso imaginar

Data de lançamento: 31/ 05/ 2018

Direção: Andrew Erwin, Jon Erwin

Elenco: Dennis Quaid, J. Michael Finley, Cloris Leachman e outros

Gêneros: Drama, Biografia

Nacionalidade: EUA


 

Uma das grandes dificuldades de se produzir uma cinebiografia de alguém ‒ quem quer que seja ‒ é orquestrar em uma narrativa estruturada, o que há de aleatório na vida. No mundo real, as pessoas mudam, nossas motivações e conflitos mudam o tempo todo. Como trazer isso para uma narrativa ficcional, essa é a questão. Não nos cabe, no exercício da crítica, afirmar se a vida de alguém foi mal ou bem representada, afinal trata-se de uma narrativa sobre a vida de alguém. Cabe-nos julgar se essa narrativa foi bem ou mal executada e, no caso de Eu só posso imaginar, os pontos negativos pesam muito.

O filme conta a história de Bart Millard, interpretado por J. Michael Finley, um cantor de uma banda cristão e compositor da música “I can only imagine”, que dá nome à produção. Na história, é apresentado o clima familiar hostil que Bart vivia, com sua mãe sofrendo violência de seu pai, e eventualmente, abandonando-o com o pai que tanto temia. Bart cresce sobre a sombra desse monstro paterno até o momento em que sai de casa, ou melhor dizendo, o momento em que a história sai dos trilhos.

A saída de Bart Millard da casa de seu pai é um ponto de virada no filme, sem dúvidas. Mas a grande questão é: para onde ele vira? Após esse momento, Bart segue com a sua banda tentando embalar uma carreira artística, sem resgatar, em nenhum momento dessa jornada, o conflito com o pai que, até então, vinha sendo o seu principal dilema moral na história. Nesse ponto, uma escolha em prol de “contar a vida real” do cantos afeta drasticamente a história crescente, levando o espectador para outro lugar da narrativa.

Como se não bastasse essa virada brusca, o filme repete o movimento, fazendo com que Bart retorne para a casa do pai que odiava. Em termos “técnicos”, é como se o filme tivesse duas montagens dentro dele: a história de um garoto que não consegue se acertar com o pai e a de um homem tentando uma carreira musical. O curioso é que essas histórias não se cruzam. Talvez, apenas no momento da música, mas que, mesmo assim, se demonstra insuficiente para resolver os conflitos narrativos do filme.

É preciso ter em mente que Eu só posso imaginar é um filme sobretudo religioso. Não apenas pela temática, mas pela forma como ela se relaciona estruturalmente com a narrativa do filme. É preciso um espectador muito religioso para aceitar, sem resistências, que todos os conflitos narrativos de Bart são resolvidos com o seu amor a Deus. Ao contrário de filmes como A cabana, que lidam com a temática religiosa a partir da medida do homem, Eu só posso imaginar não tem receios de usar Deus como a medida e a solução para tudo o que há de errado.

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